LEÃO XIV: “¿WHAT NOSOTROS PODEMOS TO WHAIT?”
Na homilia da Missa pro eligendo pontifice, o Decano do colégio Cardinalício, Giovanni Battista Ré, afirmou que a missão dos seus pares, naquela hora, era com a ajuda o Espírito Santo eleger “o Papa que a Igreja e a humanidade precisariam neste momento tão difícil e complexo da história”. Vinte quatro horas depois, contiguo a quatro escrutínios, chegou-se a um nome para essa missão. Elegeu-se o cardeal Robert Francis Prevost. Norte americano, naturalizado peruano. Anglófono que se tornou espanofalante. Ele assumiu o nome de Leão XIV. Transcorridos alguns passos de sua eleição, prorrompe no ansioso e curioso espírito humano a indagação do que podemos esperar do seu pontificado?
Cada papado, deve-se dizer, tem sua singularidade e, não raro, molda-se à luz das vicissitudes da história, adquirindo fisionomia e forma ao longo dos anos. Serão os desafios e os fatos que se apresentarem durante os próximos tempos que determinarão, em concreto, o que será o ministério do novo bispo de Roma. Será, portanto, a soma da cotidianidade das ações e as opções tomadas pelo agostiniano que acendeu ao sólio petrino, que determinarão a tecitura do seu pontificado.
Por hora, crendo que ele seja fiel aos gestos simbólicos que demonstrou nas suas primeiras aparições, ciente de sua história pessoal e divisando as demandas das Congregações Gerais, pode-se esperar muito de seus próximos atos. Pode-se esperar uma lufada doce e reconfortante do Espírito Santo sobejada pela forma como ele conduzirá a Igreja nesse, como dito, “momento tão difícil e complexo da história”
Dentre outros aspectos, um que se pode esperar, em seu pontificado, será um compromisso com a promoção da paz. Leão XIII, seu antecessor direto e Leão Magno, o primeiro assumir o onomástico tomado pelo cardeal Prevost viveram momentos de convulsões sociais e eclesiais. O Papa do século XIX, assumiu a promoção da justiça social como um viés para paz; O outro, do século V, num período de controvérsias em torno de dogmas cristológicos que provocavam conflitos no fórum interno e externo da Igreja, foi instrumento de pacificação sobretudo por sua memorável obra chamada “Tomo de Leão” que foi base para as definições do Concílio Calcedônia. Nesse sentido, o atual bispo de Roma, o ex-prefeito do dicastério dos Bispo e ex-presidente da Pontifícia Comissão para América Latina, parece acenar, num contexto de conflitos que pululam em diversas partes do globo, para a necessidade de produzir uma paz “desarmada e desarmante.” Oxalá ele seja instrumento de paz!
Outro elemento, que a partir dos seus acenos preliminares, pode-se esperar é uma contribuição à unidade da Igreja. Não se espera, verdade seja dita, uniformidade. A instituição católica, por ontologia, é plural, multiforme. Todavia, nas Congregações Gerais, falou-se de uma busca por unidade, por pacificação de conflitos internos que, não raro, são ruidosos e protagonizados por grupos reacionários alocados dentro do bojo da Igreja. O papa Norte-americano, nesse sentido, por sua história de vida e pelo aceno de seu discurso manuscrito proferido da sacada da basílica de São Pedro, pode ajudar nesse processo. Em sua história, ele fez sínteses. Foi um norte-americano que se radicou no sul global; Foi prior de uma ordem religiosa, que significa – malfadado as responsabilidades burocráticas – ser sinal de unidade; seu lema episcopal e, agora pontifício, extraído de uma meditação de Santo Agostino, defende a unidade em Cristo. Roga-se que esses predicados contribuam para efetivar uma unidade ainda maior na instituição católica
Do papa nascido em Chicago, pode-se esperar, ademais, um compromisso com a ecologia integral que foi uma divisa do seu antecessor. Leão XIV foi eloquente em seu agradecimento à figura de Francisco, falou da voz “frágil que ainda escova em nossos ouvidos”. Tal postura, revela sua consonância com temas, entres outros, como a preservação da Casa Comum, caro a Bergoglio. Leão XIV, ainda como cardeal, afirmava recentemente, que era necessário migrar de um modelo “Tirânico” sobre a natureza à uma “relação de reciprocidade.” Em seu discurso da sacada da basílica reafirmou seu compromisso de ser e fazer a Igreja um sinal de caridade que “busca estar próxima, especialmente daqueles que sofrem.” No caso da crise climática, os mais frágeis, são aqueles que mais padecem. Roga-se que o Agostiniano Papa seja um fomentador dessa consciência e preocupação.
Por fim, deve-se esperar dele um compromisso com a sinodalidade. O cardeal Prevost, menciona-se, participou integralmente do sínodo sobre a sinodalidade. Foi o responsável, durante algum tempo, pela apresentação dos indicados ao episcopado ao seu antecessor e, afirmou que eles, deveriam viver no meio do povo, não em pequenos feudos. Caminhar junto ao seu povo. Em seu discurso, igualmente, relembrou de sua diocese, Chiclayo na qual “um povo fiel acompanhou seu bispo, compartilhou sua fé e deu muito, muito para continuar sendo Igreja fiel de Jesus Cristo.” Outrossim, em seu primeiro discurso, pontificou que “queria “ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha.” O conceito de sinodalidade, não obstante debatido, ainda não adentrou a derme profunda Igreja, cabendo esse impulso operacional, quiçá, a Leão XIV.
Pode-se esperar, ainda inúmeras outras ações do Papa. Há, verdade seja dita, entre a figura de um cardeal e a instituição que é um Papa, um abismo de possibilidades. Os exercícios diários, a prática ordinária do magistério e a história é que serão capazes de dizer quais expectativas serão atendidas, quais soçobrarão e quais outras, ainda não são divisadas por nossa míope percepção, e serão equacionadas.
Reuberson Ferreira é Doutor em Teologia pela PUC/ SP. Professor de Teologia da PUC-SP. Religioso e Padre Missionário do Sagrado Coração.