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Artigos › 07/07/2021

Testemunhas do amor, por caminhos diversos

A ação bondosa e surpreendente do amor de Deus é fascinante. E talvez, o sinal mais evidente dessa presença divina seja a realização da unidade na diversidade. Certamente, a julgar pelos “sinais dos tempos”, o dom mais necessário que devamos pedir e pelo qual trabalhar em dias tão difíceis como o nosso é a possibilidade de acolher e perceber a ação de Deus, gerando de formar diversas, sinais da sua manifestação amorosa. Contudo, para que possamos ver essa realidade, é necessário superar a miopia que nos faz sempre ver o diferente como inimigo.

Essa maneira do Espírito de Deus agir, gerando comunhão na diversidade, é sua marca registrada ao longo da história da salvação. E quando essa comunhão não pôde ser construída é porque nossa frágil e contraditória humanidade optou por dividir, por “dar ouvidos” ao mau espírito, ao divisor, que é o pai da mentira.

Particularmente, a herança espiritual deixada na Igreja pelo servo de Deus, Pe. Júlio Chevalier, atesta que é possível, viver essa realidade, onde estilos, culturas e caminhos diferentes, quando tocados e impulsionados pelo mesmo amor de um Deus que tem coração, podem florescer em testemunhos de autêntico seguimento de Jesus. A frondosa árvore da Família Chevalier também possui ramos diferentes e multicores, que são sustentados pela mesma raiz e que já produziu e continua a dar frutos.

Três desses frutos maduros e diversos, que enriquecem nossa família, concluíram sua jornada entre os meses de junho e julho: o leigo e beato mártir Pedro To Rot, o presbítero e beato mártir Faustino Vilanueva e o presbítero e servo de Deus Emiliano Tardif. Por caminhos distintos, vivendo em culturas diferentes e inseridos em realidades eclesiais próprias, os três conheceram o carisma dos Missionários do Sagrado Coração e tocados pelo Espírito Santo, deixaram, cada um a seu modo, um valoroso exemplo de cristãos apaixonados pelo Evangelho de Jesus.

Vamos conhecê-los um pouco mais. Pedro To Rot, leigo cuja memória celebramos dia 07 de julho, viveu em Rakunai, Papua Nova Guiné. Fruto da evangelização dos Missionários do Sagrado Coração na Oceania, foi beatificado pelo papa São João Paulo II em 17 de janeiro de 1995. “Inspirado por sua fé em Cristo, foi um marido devoto, pai amoroso e um catequista comprometido, conhecido pela sua cordialidade, pela sua gentileza e pela sua compaixão”, o beato “teve uma grande visão do matrimônio e, apesar do grande risco pessoal e da oposição, defendeu a doutrina da Igreja sobre a unidade do matrimónio e da necessidade de fidelidade mútua.” Durante a Segunda Guerra Mundial, de fato, a sua aldeia, Rakunai, foi ocupada pelos japoneses, os missionários acabaram presos, mas To Rot assumiu a responsabilidade pela vida espiritual dos seus concidadãos, continuando a ensinar os fiéis, a visitar os doentes e batizar. Mas quando as autoridades legalizaram a poligamia, o beato Pedro denunciou firmemente essa prática. “Devo cumprir o meu dever e como testemunho na Igreja de Jesus Cristo”, explicou. O medo do sofrimento e da morte não o pararam.” Mesmo na prisão Pedro permaneceu sereno, até mesmo alegre, até que ele foi assassinado com uma injeção em julho de 1945 por um médico japonês.

O segundo é o beato mártir Pe. Faustino Villanueva, nascido em Yesa (Navarra) em 15 de fevereiro de 1931 e que em 1959 foi destinado à Missão de El Quiché, na Guatemala. Foi covardemente assassinado em 10 de julho 1980 por dois pistoleiros militares enquanto estava na paróquia de Joyabaj, trabalhando entre os indígenas, povo massacrado e perseguido, durante a sangrenta guerra civil na Guatemala. Foi recentemente beatificado no dia 23 de abril deste ano.

Por fim, o servo de Deus, Pe. Emiliano Tardif . Emiliano Tardif, nascido em 6 de junho de 1928, na província de Quebec, Canadá. Após sua ordenação foi enviado para o República Dominicana, onde trabalhou em diversas obras da congregação. Em 1973, adoeceu com tuberculose, o que o obrigou a retornar ao Canadá para tratamento e descanso. Durante esse tempo, ele recebeu a oração de alguns leigos de um grupo de oração carismático, que por acaso estavam visitando o hospital e se viu curado de sua enfermidade. Com isso, ele se envolveu na Renovação Carismática Católica e descobriu que havia recebido um poderoso dom de cura, que o tornou conhecido mundialmente. Morreu em 8 de junho de 1999.

O testemunho tão heterogêneo desses três homens, somado a tantos outros, é certamente um luzeiro a nos alertar como Família Chevalier e como Igreja, para que não percamos e nem nos apequenemos nestes tempos em que nos rondam a intolerância, a discriminação de toda espécie e o retrocesso travestido de tradicionalismo, querendo a todos igualar por baixo e sufocando a ação criativa e festiva do Espírito de Deus.

Pe. Lucemir A. Ribeiro, msc

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