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Artigos › 04/07/2022

Peter To Rot, Catequista e Mártir

É importante sabermos a história deste homem, porque tem muito a ver com o trabalho realizado pelos Missionários do Sagrado Coração, no pacífico.

A Papuásia – Nova Guiné, uma grande ilha ao norte da Austrália, foi a primeira missão entre os “infiéis” (como se dizia naquela época), que os MSC aceitaram. No dia 29 de setembro de 1882, os padres Navarre (futuro bispo), Cramaille e Fromm desembarcaram na ilha de Nova Bretanha para iniciar, em circunstâncias muito difíceis, a evangelização da ilha. Muitos missionários deram a vida naquelas terras, mas os frutos do seu trabalho continuam aparecendo.

O pai de Peter To Rot

Peter To Rot é um dos católicos de segunda geração, nascido em 1912. Isto é importante, pois seu pai entrou na igreja pouco depois da chegada dos primeiros missionários em Malaguna (1893). Foi uma grande surpresa para os missionários quando, em 1898, o chefe do povoado de Rakunai, nas colinas ao redor do porto de Rabaul, Angelo To Puia, veio falar com o padre, dizendo que a maioria dos habitantes do seu povoado queria ser católico e não metodista. Depois da catequese preparatória, To Puia foi batizado. Ele foi chefe do seu povo por 40 anos e conseguiu que um padre fosse enviado a Rakunai, em 1901.

To Puia era um homem extraordinário. Seus antepassados foram pagãos, como todos os demais da área. Ele, porém, aceitou plenamente os princípios cristãos, procurou trazer a paz entre os povoados vizinhos, socorria os pobres e adotou várias crianças órfas em sua família. Ele tinha uma atenção toda especial para com seu filho Peter, pois este sempre foi um bom trabalhador e um bom estudante.

A educação de Peter

Peter To Rot educou-se numa família católica e era encorajado por seus pais a fazer suas orações e participar diariamente da missa quando havia sacerdote em Rakunai. Ele era o melhor estudante da escola e seu pai discutia com ele todas as tarefas de casa. Procurou conhecer bem a Biblia. Sua mãe, Maria La Tumul, era uma pessoa simples e agradável.

Importância dos catequistas

Uma das estratégias da missão em Papuásia-Nova Guiné era formar catequistas que pudessem orientar a vida cristã nos povoados. Por isso foi fundada uma escola de formação de catequistas em Taliligap, não muito longe de Rakunai. Os irmãos MSC cuidavam da formação desses jovens. O papel do catequista nos povoa dos era bem claro: eles se encarregavam da supervisão da escolinha, da preparação dos catecúmenos para o batismo, das celebrações dominicais quando não havia padre, do cuidado dos enfermos e dos necessitados. Era um programa intenso, mas os resultados demonstraram que era o tipo de apostolado leigo mais adequado para a evangelização.

O catequista Peter To Rot

A vida de Peter To Rot mostra claramente quanta influência positiva pode ter um bom catequista num desses povoados. Ele tinha 18 anos, quando ingressou na escola catequética São Paulo, em Taliligap.

Em 1933, depois de três anos na escola de catequistas, o catequista de Rakunai teve de sair, e Peter foi indicado para assumir essa responsabilidade no seu povoado natal. Foi uma mudança bem sucedida: os que o conheciam como catequista contam como ele usava histórias para expor a doutrina, de tal forma que o povo discutia sobre o que havia dito, ao voltar para casa.

Peter e a Bíblia

Ele sempre levava consigo a Bíblia – algo pouco usual naqueles dias – e conhecia bem a Bíblia para poder ajudar seu povo. Ele continuava também os esforços do seu pai para apaziguar casos de conflitos. Em 1939, Peter casou com Paula La Varpit, uma moça de um povoado vizinho. Foi um casamento baseado nos princípios cristãos de escolha livre e mútua colaboração. As três crianças que nasceram do casamento eram a alegria do pai, embora o mais novo tivesse nascido quando o pai já estava na prisão.

 Horrores da guerra

Quando, em março de 1942, os japoneses chegaram, eles expulsaram a guarnição australiana dentro de 24 horas. Depois, eles fizeram de Rabaul seu Quartel-General para toda a regido Sul do Pacífico.

A vida da Igreja nos povoados dependia exclusivamente do próprio povo, principalmente da ação dos catequistas. Foi nessas circunstâncias que as qualidades de Peter To Rot vieram mais à tona. Enquanto outros catequistas cumpriram sua missão com ânimo inconstante, Peter sabia que Deus o havia escolhido para esta missão, e por isso nunca deixou de organizar a oração comunitária aos domingos, os batismos, a comunhão, os casamentos e os enterros. Quando a igreja principal do povoado foi destruída por um bombardeio, ele fez de Rakunai uma igreja de catacumbas. A partir de sua casa, ele continuou seu trabalho de animador da comunidade, manteve em dia os registros de batismo e casamento, tentava ajudar os que tinham problemas inclusive outros catequistas que estavam confusos devido às mudanças políticas provocadas pela ocupação japonesa.

Acusações

Aconteceu o inevitável: Peter To Rot foi preso, junto com seus irmãos, num quarto que servia de prisão e ambulatório médico. Foi acusado de realizar assembleias de oração e de interferir nos planos japoneses de promover a poligamia (um homem pode ter várias mulheres). Enquanto os outros prisioneiros podiam trabalhar no cultivo da horta, Peter teve que ficar dentro da prisão, trabalhando na cozinha. Sabia o que estava em jogo e não esperava que seria solto, quando seus irmãos puderam voltar ao povoado. Mesmo a intervenção do chefe de Rakunai em seu favor não adiantou. Era uma luta para saber quem cederia: os japoneses ou catequista.

 Peter não hesita

Numa das últimas assembleias dominicais a que presidiu, ele disse: “Eles querem levar embora a nossa oração, mas não tenham medo, eu continuo o meu ministério”.

A morte de Peter

À guerra estava chegando ao seu fim. Era agosto de 1945. Peter sabia que, se continuasse “obstinado” seria morto. Por isso, ele pediu à sua esposa que lhe trouxesse suas roupas de catequista: camisa, túnica e a cruz. Ele descontava que a polícia ia chamar o médico para vê-lo.

Seu fim veio rápido: os outros prisioneiros foram levados para trabalhar fora e Peter foi levado ao consultório do médico. Um dos seus companheiros de prisão desconfiou de que algo estranho estava acontecendo, e por isso foi até um lugar mais alto onde podia enxergar dentro do ambulatório o que estava acontecendo com Peter: a polícia tapou seus ouvidos com flocos de algodão e o médico deu-lhe uma injeção. Enquanto o policial o segurava com um lençol sobre a cabeça, seu corpo tremeu algumas vezes e ele foi deixado como morto.

No dia seguinte, os japoneses se mostraram surpresos quando seu cadáver foi encontrado, agradeceram o espírito que havia passado, e devolveram seu corpo a família para ser enterrado sem cerimônias religiosas. Seus colegas catequistas e o povo de Rakunai o enterraram, e sua memória continuou viva.

Exemplo maravilhoso

Ele pode ser considerado um exemplo para todos os catequistas e os ministros das comunidades, não só em meio ao próprio povo, mas no mundo inteiro.

Beatificação

No dia 17 de janeiro de 1995, o Papa João Paulo II o beatificou em Port Moresby (Papuásia-Nova Guiné).

“A causa missionária deve ser para todo crente tal como para toda a Igreja a primeira de todas as causas, porque diz respeito ao destino eterno dos homens e responde ao desígnio misterioso e misericordioso de Deus.”

João Paulo II

JANSSEN, Francisco. Peter To Rot, Catequista e Mártir. In.: O mundo precisa de um coração: Missionários do Sagrado Coração. Gráfica Editora Júlio Chevalier, Campinas-SP

 

 

 

 

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