JESUS, O CORAÇÃO MISERICORDIOSO DE DEUS
Hoje, vivemos num mundo em que o fundamento das relações humanas se apoia na competição. Somos, equivocadamente, treinados, todos os dias, para competir: do estudo à política; do esporte à economia… O ensinamento predominante é de que nossa ascensão e sucesso dependem da eliminação do outro. Programas televisivos como, por exemplo, o Big Brother, são um sucesso, pois nos ensinam como ganhar na vida, eliminando, pouco a pouco, todos os “concorrentes”. Essa é a lógica do mundo em que vivemos!
Mas a proposta de Jesus nos indica o contrário. Um dos ensinamentos mais eloquentes que podemos aprender na escola do Coração de Jesus é a misericórdia. Jesus em toda sua vida, palavras e gestos, nos ensinou a lógica de um coração que movia de compaixão pelos sofredores. “Sede misericordiosos como também é o vosso Pai” (Lc 6, 36). Essa é lógica dos santos e servidores que aprenderam ser mais humanos e humanizadores com a pedagogia do coração de Jesus.
Compaixão é, literalmente, “sofrer com”, ou seja, é estar com o outro, é ser “afetado”, “movido” pelas dores do outro. O Coração de Jesus movia-se de compaixão ao ver o sofrimento das pessoas, multidão… São tantos relatos nos evangelhos que corroboram esse “movimento” de Jesus para a solidariedade amorosa. Numa sociedade, como já mencionamos, que prega a competição para a ascensão a qualquer custo, mesmo eliminando o outro (concorrente), o caminho da compaixão é o caminho “descendente” que nos leva ao encontro dos que sofrem (companheiros). A compaixão e a misericórdia, nos recorda o Papa Francisco, no leva a um verdadeiro caminho de conversão, um caminho da autorreferencia para a cercania do outro. Diz o papa: “Comove-nos a atitude de Jesus: não escutamos palavras de desprezo, não escutamos palavras de condenação, apenas palavras de amor, de misericórdia, que convidam à conversão” (Misericordiae Vultus)
Eis a pedagogia de Jesus: Ele, embora sendo de condição divina, desceu até nós, quando assumiu nossa natureza humana. Na fila dos pecadores que buscavam a conversão pelo batismo de João, lá estava ele, o “Filho amado”, em solidariedade amorosa com todos nós no caminho de reencontro com nossa humanidade perdida e com nossa salvação. Em seu “movimento descendente” assumiu a condição de servo. Mais ainda, na Última Ceia quando nos deixou o sacramento do amor, fez-se escravo ao lavar os pés humanos. Nada podia interromper sua escada ao revés: morreu como “maldito”, conforme a Lei, para descer e nos alcançar em nossas profundas misérias. Após a morte, para “buscar” nossos primeiros pais, aceitou descer até a mansão dos mortos, pois era preciso que sua compaixão cursasse as feridas de todo ser humano desde Adão, passando por Caim, que ludibriados pela serpente do mal, acreditaram poder ser “como Deus”, eliminando o irmão. Enfim, na eucaristia, Ele desce, cada vez, agora na pequenez e simplicidade do pão e do vinho, para gerar comunhão. Isso é compaixão: ser alimento e presença efetiva na vida do outro. Jesus nos ensina que a vida de compaixão não é um heroísmo a ser premiado, mas uma proposta concreta, um caminho de “descida” para a solidariedade. Se hoje já podemos dizer que o “nosso coração está em Deus” é porque, primeiramente, Ele desceu até onde estava nosso coração.
Ter misericórdia e compaixão, não é apenas “ter dó” de alguém. Esse sentimento pode ser “resolvido” quando damos alguma coisa, como dinheiro por exemplo. Compaixão é, a exemplo de Jesus, aproximar de quem sofre, e estar ao seu lado e sofrer com ele, em muitos casos, sofre por ele. É doar-se! (M. V.).
O Coração de Jesus se movia de profunda misericórdia com os sofredores nas sinagogas (caso do paralítico de Cafarnaum, da mulher encurvada do homem da mão atrofiada), em lugares públicos (caso do paralítico junto ao tanque de Betesda, do homem da orelha decepada no Getsêmani) e em ruas e estradas (caso do cego de nascença que gritava por misericórdia, da viúva de Naim, do endemoninhado de Gerasa, do cego Bartimeu) …
Prestemos atenção em nosso cotidiano, principalmente nestes tempos tão difíceis que estamos atravessando. A misericórdia se vive no dia a dia e onde estamos. “A misericórdia é a trave mestra que sustenta a vida da Igreja” (M.V.). Pare, pense e veja se seu dia, semana, mês, vida… tem ritmo, ou se seu coração anda com “arritmia”, descompassado do Coração de Jesus, sem sentido para viver ou vivendo sem sentir.
No Coração de Jesus,
Pe. Benedito Ângelo Cortez, MSC