Instituto MissionárioInstituto Missionário

Artigos › 05/04/2022

Culto de Justiça

 

Toda sexta-feira os missionários dos Sagrado Coração (MSC), padres, irmãos e fraternidade leiga são convidados a rezarem o Culto de Justiça, que compõe o Culto Perpétuo instituído pelo nosso fundador, Pe. Júlio Chevalier. Sobre este Culto, a convite da equipe do Portal, escrevo algumas palavras, tendo de antemão duas questões: “sexta-feira, por quê? E por que justiça?” Partindo destas interrogações chegaremos juntos ao comentário do texto.

Na tradição da Igreja, como bem aponta o Oficio das Horas e a mais antiga tradição litúrgica, a sexta-feira está profundamente ligada aquele dia em que o Senhor padeceu a cruz. No Oficio das Horas os salmos, sobretudo o Salmo 51, nos apresenta bem a mística da sexta. É um dia de misericórdia. A Igreja reconhece que o Coração do Senhor, ferido neste dia, comunica por excelência a nossa redenção. A cruz de Cristo assume a teologia do cordeiro que expia nossas faltas, assim, toda sexta-feira está misticamente unida aquela Sexta, dia do sacrifício-entrega do Senhor, para que tenhamos vida e vida plena.

No que toca ao termo justiça, ele adquire na bíblia profundo sentido. Na tradição secular justiça é “dar a cada um o seu”, passar, restituir, garantir a cada um o que lhe é devido, no entanto, desde o Antigo Testamento (Sl 15,2; Gn 6,9; Ez 14,20; Is 26,6; Am 1,3-2,8) justiça também é observar os mandamentos do Senhor, é ter uma vida perpassada pela ética do Deus da libertação. No Novo Testamento toda idéia de justiça é levada a perfeição em Jesus de Nazaré. Agora a medida da justiça é Cristo. Por meio de Jesus, Deus nos concede este dom (Rm 3,20; 7, 7-13; Hb 1,8; 1Jo 3,7; Fl 3,9), e por Ele e nEle permanecendo somos filhos da luz, praticamos obras justas.

Tendo olhado brevemente a sexta-feira e a justiça, adentremos no comentário do Culto de Justiça, rezado na sexta-feira. Contudo, antes alguém pode se perguntar: “e o termo culto?” Em poucas palavras: culto responde ao anseio de eternidade da pessoa humana. As primeiras expressões de culto estão ligadas a sepultamento, o ser humano desde os primórdios é um ser insatisfeito com a finitude. Segundo um teólogo alemão, Karl Rahner, somos seres abertos a auto comunicação de Deus, temos sede de uma eternidade que potencialmente já possuímos, mas ainda não plenamente, assim, o culto dirigido ao eterno é a nossa exploração do potencial, caminhando em direção à plenitude. Dito isto, podemos ver que o Pe. Chevalier elaborou uma oração que nos permite crescer em nossa comunicação com Deus e no nosso compromisso com os irmãos.

O Culto de Justiça, em seu primeiro parágrafo, com a imagem do Coração traspassado, mergulha na espiritualidade penitencial-redentora da sexta-feira e deseja com São Paulo estender a paixão de Cristo à nossa própria carne, no sentido de associarmos nossas dores a obra redentora de Cristo. Esta imagem nos recorda o sacrifício-entrega do Senhor, a sua benevolência e, ao mesmo tempo, a nossa salvação, que deve ser comunicada a todos, pois quem conhece a Cristo e nEle põe fé, pelos méritos de sua paixão alcança a salvação, como declara o Concílio de Trento (Sessão VI, Capítulo III, 1547). Deste modo o culto perpétuo se coloca em profunda comunhão com a tradição da Igreja.

Ainda no primeiro parágrafo o fundador nos dá sua compreensão de reparação, que se difere daquela que vem de Paray-le-Monial, pois no Culto Perpétuo reparação está ligada a justiça, a superar injustiças contra o próximo, isto é, carrega a noção embrionária de pecado social.

No segundo parágrafo o Culto continua sua trajetória de propor conversão. Aqui, ao que parece, o Culto traz bem a interpretação de justiça identificada com o próprio Cristo e injustiça como contrária ao Senhor, pois escraviza e oprime aos filhos da Luz. Em suas últimas linhas o texto apresenta Nossa Senhora do Sagrado Coração. É por demais significativa a presença deste título extraído de Jo 19, 25-27, uma vez que o Culto inicia-se com a imagem do Coração aberto e conclui-se com a busca de união com Maria, aquela que contempla concretamente o Coração aberto. Ela está profundamente unida a Cristo, tem no seu coração os sentimentos do Senhor. Ela nos ajuda a superarmos as injustiças para vivermos a salvação que vem de Deus em Cristo, Ele que é fonte de justiça e de amor.

Por fim, que a nossa oração do Culto de Justiça, nos comprometa com o próximo e no cuidado com o planeta e responda ao nosso desejo de Deus, para O fazermos conhecido e amado em toda parte.

Pe. Abimael, msc

Deixe o seu comentário





* campos obrigatórios.

X