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Artigos › 02/03/2022

A espiritualidade quaresmal

Com a Quarta-feira de Cinzas inicia-se o período quaresmal, momento forte no Ano Litúrgico e marcado pelo tom penitencial, que prepara os corações dos fiéis para as alegrias da Páscoa. Na Missa deste dia escuta-se um trecho da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, no qual é dito no final: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2 Cor 6,2). As palavras do Apóstolo dão ênfase à importância deste tempo, sinalizando que Deus vem ao encontro de seus filhos, trazendo a eles Salvação.

Assim, a palavra chave deste tempo é a conversão, isto é, a mudança de vida e de comportamento. O papa Francisco escreveu certa vez que “a Quaresma é o tempo para reencontrar a rota da vida”. Ou seja, este tempo é uma oportunidade dada a todo batizado, para que revise sua vida, fazendo-se dócil ao Espírito Santo, no seguimento de Jesus Cristo, tornando-se um discípulo e missionário autêntico.

Todos os anos, no período quaresmal, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) convida os fiéis brasileiros à meditação de um tema, “que contribui para uma mudança de vida profunda que nos leva, não somente a pedir a Deus perdão por nossos pecados, mas a unir forças na construção de uma sociedade que corresponda à mensagem do Evangelho” (Introdução do Texto Base). Não raras vezes, há ataques a esse movimento e à Igreja, acompanhados de reclamações acerca do verdadeiro espírito quaresmal e cristão. Contudo, aqueles que reclamam se esquecem, talvez, de que toda espiritualidade deve ser encarnada e comprometida, caso contrário será apenas um movimento vazio e fechado em si, sem abertura ao próximo.

Deste modo, neste ano a Campanha da Fraternidade será sobre Fraternidade e Educação e “nos convoca a refletir sobre os fundamentos do ato de educar. Ao longo da caminhada quaresmal, em que a conversão se faz meta primeira, recebemos o convite para buscar os motivos de nossas escolhas em todas as ações e, por certo, naquelas que dizem respeito mais diretamente ao mundo da educação” (Apresentação do Texto Base).

No percurso quaresmal, período tão propício à mudança de vida, a CNBB convida a refletir e meditar sobre as ações educativas, em seus diversos níveis, à luz da vida do próprio Jesus, segundo vê-se nos Evangelhos. Assim, na apresentação do Texto Base pode-se ler o seguinte: “quando contemplamos as ações e palavras de Jesus, encontramos um caminhar educativo. Sua presença atenciosa junto às pessoas, a relação entre os milagres e a conversão, o uso de exemplos recolhidos do cotidiano, tudo, enfim, nos apresenta Jesus como o grande educador”.

Diante de nós há uma imensidade de ofertas e ensinamentos. A sabedoria do Evangelho nos conduz às coisas sólidas e nos ensina a deixar para trás as coisas efêmeras, que não acrescentam à nossa vida. Para ouvirmos o ensinamento do Senhor e aprender com ele, “a primeira coisa que temos que aprender a fazer é permitir a nós mesmos assentar, permanecer quietos, imóveis” (Laurence Freeman), caso contrário, seremos tragados pelo turbilhão do mundo e não teremos ouvidos e tempo para sua mensagem.

Colocar-se na escola de Jesus, observando seus ensinamentos e ouvindo suas palavras, faz com que a nossa ação e a nossa opção seja compatível com aquilo que Ele ensinou e fez. Matriculados nesta escola, somos chamados ao coração do Evangelho e, aos poucos, nosso coração passa por um processo educativo, no qual aprendemos a ter os mesmos sentimentos do Senhor, segundo a orientação do apóstolo Paulo, que diz: “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus” (Fl 2, 5).

Leonardo Henrique S. Agostinho, MSC

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