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Sem categoria › 07/10/2024

A CRIAÇÃO NA PERSPECTIVA ASSUMIDA PELA LAUDATO SI

A carta encíclica Laudato Si’, lançada em 24 de maio de 2015, é a primeira a abordar com exclusividade a questão ambiental, pois está inserida no contexto da atual crise climática e ecológica. Nela, o Papa Francisco apresenta o viés pelo qual deve ser entendida a profunda relação existente entre todas as criaturas do planeta, a saber: ecologia integral. O Pontífice afirma que “tudo está interligado” (LS, 138) e, nesse sentido, ele chama atenção para crise socioambiental resultante do sofrimento da Terra e o sofrimento dos pobres. Esse eixo organizador da encíclica remonta ao binômio criação e cuidado para reiterar a necessidade de uma conversão ecológica, uma vez que “de uma conversão pastoral que tenha como centro o cuidado pela vida para uma conversão ecológica, o passo é inteiramente coerente”[1]. Essa constatação é enfatizada pelo Papa que não tem dúvidas de que a crise na ecologia acena para a conversão interior (cf. LS, 217). Ele recorda que “a espiritualidade não está desligada do próprio corpo nem da natureza ou das realidades deste mundo, mas vive com elas e nelas, em comunhão com tudo o que nos rodeia” (LS, 216). Nessa perspectiva, ao apresentar a urgente necessidade do cuidado da casa comum, Francisco traz duas palavras-chave da Teologia da Criação e que são o cerne da Laudato Si’: criação/criatura.

Partindo desse pressuposto, tudo o que se diz acerca da criação emana de uma Teologia da Criação e, na ótica da tradição judaico-cristã, “dizer ‘criação’ é mais do que dizer natureza, porque tem a ver com um projeto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor e um significado”[2]. Essa visão evidencia a concepção da criação como dom de Deus, cujo desígnio é a comunhão universal e, por conseguinte, a harmonia entre criatura e criação, remete a contemplação do seu Criador (cf, Sb 13,5). Aqui, percebe-se a unidade criacional, ou seja: Deus criou todas as coisas de maneira integral.

Sendo assim, a criação do cosmo está relacionada com a criação do ser humano referenciada pelo Romano Pontífice com a noção de ecologia integral. Ele assevera que esta ecologia, além de ser criacional, ambiental e humana, precisa ser também: econômica, social, cultural e da vida cotidiana. Diante dessa visão ecológica do Papa, percebe-se que ela possui uma abrangência, na qual se faz necessário um conceito “que integre o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a realidade que o rodeia” (LS, 15). Essa necessidade indica que o desenvolvimento do gênero humano exige uma Antropologia balizada por uma ecologia integral e humana, que pensa a existência do ser humano não como senhor da natureza ou algo externo a ela, mas com a finalidade de reconduzir todas as criaturas ao seu Criador (cf. LS, 83). Tem-se, nessa missão do ser humano, o exemplo de Francisco de Assis, recordado pelo Papa, como modelo de uma sã relação com a criação.

Em suma, Francisco de Roma, enfatiza que este modelo implica uma verdadeira conversão ecológica que exige o reconhecimento das ofensas feitas à criação de Deus e a passividade humana diante da crise socioambiental.

 

Pe. Rosenildo do Nascimento da Costa, MSC

 

 

[1]SUSIN, Luiz Carlos. Conversão ecológica: “conversão da conversão”. In: TAVARES, Sinivaldo Silva; MURAD, Afonso. (Orgs.). Cuidar da casa comum: chaves de leitura teológicas e pastorais da Laudato Si’. São Paulo: Paulinas, 2016. p. 44.

[2] SUESS, Paulo. Dicionário da Laudato Si’: sobriedade feliz: 50 palavras-chave para uma leitura pastoral da Encíclica “sobre o cuidado da casa comum” do Papa Francisco. São Paulo: Paulus, 2017. p. 54.

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