80 anos do martírio de Santa Teresa Benedita da Cruz
“Vem, Amado meu, ao encontro da noiva”
Teresa Benedita da Cruz nasceu numa família judia e se chamava Edith Stein. Com grande capacidade intelectual, mostrando interesse por acontecimentos políticos de sua época, Edith Stein estuda filosofia, sendo aluna e assistente de Edmund Husserl, destacando-se na área da fenomenologia. Em agosto de 1916 Edith Stein é aprovada com máxima deferência no doutorado, tornando-se assim doutora em Filosofia. Em novembro de 1918 começa a se ocupar com a análise da pessoa humana, tema que a acompanha até a morte.
Pouco conhecidas são as inclinações de Edith Stein ao feminismo, ela escreveu e participou de congressos falando sobre os direitos das mulheres e afirmou que “a mulher deve estar ao lado do homem, não no lugar dele, mas também não num degrau abaixo”. Empenha-se também na defesa do direito de voto para as mulheres.
A conversão de Edith Stein se dá entre 1921 e 1922, após uma sequência de fatos. Um deles é a leitura da autobiografia de Santa Teresa de Ávila, feita numa única noite. É batizada em janeiro de 1922. Edith Stein sente-se atraída ao Carmelo, para uma vida de oração e solidão. Ingressa no Carmelo em 15 de outubro de 1933. A tomada do hábito carmelita se deu em 21 de abril de 1934, quando recebe o nome de Teresa Benedita da Cruz. É no Carmelo, revisando sua tese de doutorado, que surge sua obra filosófica capital: “Ser finito e ser eterno”.
Neste período, as agitações políticas contra os judeus estavam mais intensas. Então, depois do dia 09 de novembro de 1938, conhecido com a Noite dos Cristais, irmã Teresa Benedita da Cruz decide se mudar para o mosteiro de Echt, na Holanda, para não colocar suas irmãs de clausura em perigo. Contudo, em 1940 a Holanda é tomada pelas tropas alemãs. E nesse interim que Edith Stein termina seu livro sobre a teologia de São João da Cruz, dando-lhe o título de “Ciência da Cruz”.
Em 26 de julho de 1942, os bispos da Holanda fizeram uma carta protestando contra a perseguição aos judeus, lida em todas as igrejas católicas do país. Frente a isso, o governo nacional-socialista decidiu, em 02 de agosto de 1942, prender e deportar todos os judeus católicos. E neste dia que irmã Teresa Benedita da Cruz é levada pelos nazistas ao campo de concentração. Sua irmã, Rosa, estava hospedada no mosteiro e foi levada junta, conta-se que ela disse à irmã: “Vem, voltemos para nosso povo”. Edith Stein sabia o que lhe esperava, mesmo assim estava serena e calma, em paz, como demostram os relatos de pessoas que a viram-na, nos seus últimos dias de vida.
Pelos relatos imagina-se que Edith entrou na câmara de gás, em Auschwitz, no dia 08 ou 09 de agosto, onde foi morta. Bento XVI, escrevendo sobre ela disse: “aceitou morrer juntamente com seu povo e por ele”. Naqueles anos sombrios de perseguição a seu povo e nesses últimos dias, nos quais ela também experimentava a perseguição, talvez tenha se perguntado, diante dos fatos, lembrando um dos livros mais importantes de seu povo, o Cântico dos Cânticos, no qual se lê: “Onde anda o teu amado, aonde foi o teu amado?” (Ct 6,1). Contudo, mesmo diante do silêncio de seu amado, Edith Stein pode dizer: “Sou aquela que encontrou a paz!” (Ct 8,10).
Sendo carmelita, Edith Stein, vivia uma espiritualidade esponsal. Imagino, que talvez, vai ao encontro da morte recitando um trecho de um hino cantado por seu povo, no Schabat, “Vem, Amado meu, ao encontro da noiva” (trecho do Lecha Dodi).
Fazendo memória da vida de Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) e de seu martírio, lembramo-nos também dos milhões de judeus que foram exterminados e pedimos ao Senhor que nos afaste de todo e qualquer preconceito, mas que também nos ensine a sermos comprometidos com a vida, lutando contra todas as formas de genocídio. Que a paz experimentada por Santa Teresa Benedita da Cruz, seja também experimentada por nós e por nossos contemporâneos.
Fr. Leonardo Henrique Agostinho, MSC